N.A. Degas

12/06/2010

Aparecida do Norte recebe novo templo evangélico

Desde o dia 20 de maio de 2010, a cidade de Aparecida do Norte, na região do Vale do Paraíba possui um templo evangélico inusitado. A Igreja Evangélica Assembléia de Deus do Pedregulho, com sede em Guaratinguetá, inaugurou o templo de Aparecida do Norte anexo à Basílica de Nossa Senhora de Aparecida.

De acordo com o pastor Patrício Roberto Araújo, responsável pelo templo, a instalação do espaço “é um sinal de tolerância entre religiões distintas que possuem em comum a fé em Deus e em Jesus Cristo”. A idéia, conta o pastor, partiu da cúpula da Igreja Evangélica. “Percebendo que muitos de nossos fiéis iam aos cultos sozinhos, no final do ano passado fizemos uma pesquisa com eles, pois queríamos montar um serviço gratuito de encontros, nos moldes do ‘Amor em Cristo’. Quando analisamos os dados, vimos que, dos que iam sozinhos, 80% eram casados com pessoas de outras religiões, sendo a mais comum a católica”, explica Araújo.

Com posse dos dados tabulados por uma empresa especializada, Araújo procurou representantes da Igreja Católica em Guaratinguetá, que abraçaram a idéia de um templo evangélico junto a uma igreja católica, mas disseram não haver espaço para isso na cidade. Insistente no assunto, Araújo procurou o bispo da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, para levar a inovação ao terceiro maior templo católico do mundo. Em duas semanas, ele tinha uma resposta positiva. As obras começaram imediatamente e o templo foi inaugurado sem muito alarde em meados de 2010.

Representantes da igreja católica, sob condição de anonimato, dizem que a idéia de Araújo foi “abençoada”. “A instalação do templo coloca as duas religiões em contato mais íntimo, mostrando que, independentemente da crença, o objetivo das religiões é a fé em Deus e em Jesus Cristo”. Eles ainda afirmam que os fiéis evangélicos irão se misturar aos oito milhões de católicos que visitam anualmente o Santuário. “Uma obra dessas não tem a ver apenas com fé. São 23 mil metros quadrados, 100 metros de altura na Torre Brasília e capacidade para 45 mil pessoas. Além disso, nossos fiéis que possuem parceiros evangélicos podem vir à Basílica enquanto seus cônjuges participam da celebração no templo. Ao fim, eles se reencontram e seguem seus caminhos, ambos com Deus no coração”.

Opiniões divergentes

Nem todos os fiéis aprovam a iniciativa, porém. Tomás de Almeida, 49, católico praticante vê a presença do templo evangélico como uma ofensa aos fiéis católicos. “Antes nós víamos apenas católicos apostólicos romanos aqui na Basílica. Quem não era católico respeitava o espaço. Agora, os evangélicos acham que o espaço da Basílica também é deles e tentam pregar para todos”. Tomás também se preocupa com o que pode acontecer no futuro. “E se decidirem abrir uma igreja de judeu (sic) ou de religiões defasadas, como gente que acredita em deuses gregos e essas coisas? Vai descaracterizar o nosso Santuário completamente. Aliás, já descaracterizou”.

Jorge Pinto da Silva, 62, fiel da Assembléia de Deus do Pedregulho e morador de Guaratinguetá, discorda de Tomás. “Eu costumava vir aqui com minha esposa, que é católica. Enquanto ela freqüentava a missa, eu passeava aqui fora, apreciando a paisagem. E quando eu ia ao meu templo, ela ficava na parte externa ou ficava em casa cuidando das tarefas domésticas. Agora vamos a um lugar só para louvar Deus e orar”. Sua esposa, Inalva, saía da missa quando Jorge dava seu depoimento. “Eu acho saudável que possamos vir ao mesmo local para os cultos. E muitos amigos meus da Pedregulho que têm parceiros católicos apostólicos romanos concordam comigo. Alguns, claro, acham um absurdo. Minha irmã se recusa a vir aqui e passou a falar menos comigo desde que apoiei a construção. Ela diz que é o equivalente a nosso pastor aprovar o casamento gay”.

Representantes de outras religiões também acham interessante a idéia de um espaço compartilhado por diversas crenças. Um rabino que não quis se identificar pensa em levar um projeto semelhante à igreja católica. “Seria ótimo se todas as religiões pudessem compartilhar um espaço comum, pois veríamos que a questão não é qual Deus está certo ou errado, mas sim que é o mesmo Deus para todos. É o mesmo princípio de um shopping, por exemplo, você compra sapato em uma loja, sua esposa em outra, seus filhos em outra e no fim estão todos comprando sapato, sem a existência de um excluir a do outro”. Ele sabe que é uma exceção, no entanto. “Tanto no judaísmo quanto em outras religiões seria difícil encontrar pessoas que concordassem com essa posição, mas é um objetivo que podemos ter para um mundo melhor, mas podemos até mesmo ter fé de um espaço ateu dentro de um templo religioso um dia”.

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