N.A. Degas

08/01/2012

Cientistas desenvolvem câmera que ensina a tirar fotos

HELSINKI, Finlândia – Um grupo de cientistas da Faculdade de Ciências da Universidade de Helsinki anunciou em janeiro de 2012 a criação de uma câmera que promete treinar pessoas a tirarem melhores fotos. A ideia por trás da Parantaa (“Melhorar” em finlandês) é fazer as pessoas pensarem antes de bater uma foto, limitando o número de imagens e só oferecendo a possibilidade de fazê-las serem vistas quando descarregadas em um computador.

Este é o segundo projeto de câmera que tem como objetivo treinar os olhos do usuário. Em 2010, Andrew Kupresanin desenvolveu a Nadia, uma câmera experimental que analisa a composição da imagem e dá uma nota para ela em vez de oferecer o resultado final na tela de LCD.

Diferentemente da Nadia, que consiste de um celular Nokia N73 conectado via Bluetooth a um computador, a Parantaa é uma câmera construída com base em hardware e software open source com um limite preestabelecido pelo usuário. No momento, a câmera tem resolução máxima de 5 megapixels com sensibilidade equivalente a 200 ISO e permite ajuste para tirar 12, 24 ou 36 fotos por vez, emulando os quase extintos filmes de 35 mm. O usuário só pode baixar as fotos para o computador uma vez que termine um “filme”.

O conceito da Parantaa surgiu após uma viagem de turismo da líder do projeto, Helmi Aho, à Suécia. “Eu não sou profissional em fotografia, mas via as pessoas tirando fotos aleatórias de tudo que encontravam pela frente, a bandeira da Suécia, um prédio igual a todos os outros, a bandeira de Malmö, outro prédio, um pedaço de papel no chão. Ficava imaginando se essas pessoas iam lembrar o que aquele prédio tinha de especial, de onde era a bandeira e qual a importância que davam para a composição”, explica.

Celulares com câmeras com cada vez mais resolução e câmeras compactas e baratas capazes de tirar fotos com grande qualidade permitem que se produza hoje mais fotos do que jamais se viu. O site Flickr de compartilhamento de fotos, tem cerca de 5.000 fotos hospedadas em seus servidores a cada minuto. O Facebook, maior rede social no momento, tem cerca de 250 milhões de fotos hospedadas por dia e esses números só tendem a subir com a facilidade de se carregar um equipamento o tempo todo e a conveniência de não precisar gastar em revelação e ampliação das fotos.

O escritor Clive Thompson explica em um artigo recente que a facilidade de tirar fotos, especialmente usando o efeito Instagram para iOS, o tornou mais observador do mundo a seu redor. Segundo Lisa Bettany, cocriadora do aplicativo Camera+, essa facilidade torna as pessoas melhores fotógrafas, encorajando-as a tirar mais fotos e ousar mais.

Helmi discorda, explicando que ao mesmo tempo em que as pessoas ficam mais ousadas em suas fotos, é mais fácil ter um bom resultado após milhares de tentativas. “O que queremos propor com a Parantaa é fazer as pessoas pensarem mais e desenvolver uma relação maior entre fotos tiradas e fotos boas”.

O uso de open source, segundo a pesquisadora, permite desenvolver um equipamento barato que pode ser adaptado pelo usuário final. “Se o usuário quiser, ele pode selecionar 8, 10 ou 15 fotos, ou até mesmo programar filtros específicos para emular diferentes filmes ou processos de revelação. Ele também poderia, tendo em mãos o conhecimento e equipamento, trocar o sensor da câmera, mantendo-a atualizada para suas necessidades”.

Alguns estudantes selecionados estão testando o protótipo e a qualidade de suas imagens é julgada por fotógrafos, pesquisadores e outros estudantes. Além disso, eles vão responder a questionários bimestrais para avaliar qual o impacto a câmera teve em sua visão do mundo. Ismo Kuusi, professor da Faculdade de Ciências Comportamentais e fotógrafo amador arrisca sua opinião. “Ao mesmo tempo em que as câmeras digitais fazem com que o usuário observe mais em busca de objetos para fotografar, eles não pensam muito no que os atraiu no objeto fotografado. Com essa pesquisa esperamos ver se é isso o que acontece mesmo. Na pior das hipóteses, criamos uma câmera personalizável extremamente barata”, conta empolgado.

Caso o projeto dê certo, Helmi Aho e sua equipe já têm planos para a câmera. “Por ela ser muito barata, poderíamos vendê-la desmontada e o usuário faz a montagem e a programação seguindo as instruções. Para simular a experiência do uso de filmes, poderíamos estabelecer uma taxa, usando dinheiro simbólico ou de verdade, para cada foto tirada. Estamos pensando também em desenvolver um aplicativo para celulares Apple e Android, mas não para Blackberry, que já têm câmeras de qualidade tão ruim, que é impossível ter algum resultado interessante com elas”, conclui.

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